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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Enjoy the Silence

Enjoy the Silence é a 6ª faixa do álbum Violator e o 24º single lançado na carreira do Depeche Mode. Não há vivalma que não conheça essa música.

Martin deu uma entrevista à Mojo Magazine em setembro desse ano, e falou sobre a música:

"The original demo of Enjoy the Silence was very slow and minimal, just me and a harmonium, and Alan (Wilder) had this idea of putting a beat to it. We added the choir chords and (producer) Flood and Alan said, 'Why don't you play some guitar over the top?' That's when I came up with the riff. I think that's the only time in our history when we all looked at each other and said, 'I think this might be a hit.'"

A demo original de Enjoy the Silence era bastante lenta e minimalista, apenas eu e um arranjo, e Alan (Wilder) teve a ideia de adicionar uma batida a ela. Adicionamos os acordes do refrão e (o produtor) Flood e Alan disseram, 'Por que você não toca um pouco de guitarra por cima?'. Foi quando eu fiz o riff. Eu acho que essa foi a única vez em nossa história em que olhamos uns pros outros e dissemos, 'Acho que isso pode ser um hit.'

O clipe da música, dirigido por Anton Corbijn, foi filmado na Europa, em diferentes localidades, e mostra Dave Gahan andando por entre belíssimas paisagens, vestido como um rei (coroado e envolto num manto) e carregando consigo apenas uma cadeira dobrável. Entre uma paisagem e outra, ele se senta na cadeira e canta o refrão da música. Por fim, ele para num lugar nevado e fica a admirar o cenário. Intercalado com as cenas de paisagens há pequenos spots em preto e branco mostrando os demais integrantes da banda.

Essa solidão que o vocalista mantém durante o clipe dialoga diretamente com a letra da música:

Words like violence
Break the silence
Come crashing in
Into my little world
Painful to me
Pierce right through me
Can't you understand
Oh my little girl

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

Vows are spoken
To be broken
Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain
Words are meaningless
And forgettable

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

(Retirado do site depeche mode dot com)

Palavras violentas
Quebram o silêncio
Vêm destruindo
Dentro do meu mundinho
Doloroso pra mim
Perfura-me diretamente
Você não pode entender
Minha pequena

Tudo o que eu sempre quis
Tudo o que eu sempre precisei
Está aqui em meus braços
Palavras são totalmente desnecessárias
Elas podem apenas ferir

Promessas são feitas
Para serem quebradas
Os sentimentos são intensos
As palavras são triviais
O prazer permanece
Assim como a dor
Palavras não têm sentido
E são esquecíveis

Tudo o que eu sempre quis
Tudo o que eu sempre precisei
Está aqui em meus braços
Palavras são totalmente desnecessárias
Elas podem apenas ferir

--

A primeira coisa que chama a atenção no clipe é a alternância dos integrantes da banda. O primeiro spot mostra Andy, Dave, Martin e Alan; num piscar da rosa da capa do Violator, permanecem Andy, Dave e Martin; outra rosa, e ficam apenas Dave e Martin; por fim, mais uma rosa, e Dave está sozinho. Isso acontece durante a introdução da música. Quando o riff da guitarra começa, Dave já está em sua jornada, caminhando por um vale. Ele anda sozinho, e no refrão ele se senta pra cantar, apreciando a paisagem. No interlúdio entre o final do refrão e o começo do riff, os demais integrantes aparecem com ele. Isso acontece durante todo o clipe. Enquanto está numa praia, Dave não se senta enquanto canta o refrão, mas apenas depois, quando acomoda-se na areia e deixa que a água passe por ele. No fim do clipe, ele se "estabelece" numa área cheia de neve, e a música termina com ele sentado, parecendo distraído, e a frase "enjoy the silence" ecoa.

Essa alternância entre a imagem dos integrantes da banda enquanto a música é apenas instrumental e a solidão de Dave enquanto a letra é cantada é bastante sugestiva. Ele está apreciando o silêncio; como diz a letra, "palavras são totalmente desnecessárias/elas podem apenas ferir". E por mais que o silêncio possa ser apreciado na companhia de outras pessoas, a solidão é perfeitamente aceitável para isso. Embora ele esteja sozinho, a letra refere-se a uma "pequena" (little girl), que provavelmente é o objeto de desejo do eu-lírico. E mesmo sem a presença dela, esse silêncio que ele aprecia em meio às belas paisagens parece conter tudo o que ela representa para ele.

A letra da música vai descrevendo todos os sentimentos sobre as palavras. Elas são violentas, quebram o silêncio, machucam. Elas são usadas para fazer promessas que se quebram, são triviais, não têm sentido, e são facilmente esquecidas. Mesmo que os pensamentos sejam formados por meio de palavras em nossa mente, elas não são necessariamente palavras, pois os conceitos semânticos por trás delas é que se juntam, e não a forma gráfica ou fonética delas. Tais formas só aparecem no momento da expressão, e às vezes isso pode se dar de forma desastrosa. O léxico de um idioma, por maior que seja, é limitado, e dificilmente conseguirá expressar a totalidade dos sentimentos que existem dentro de alguém. Isso é demonstrado nos versos "os sentimentos são intensos/as palavras são triviais". Por essa razão, o silêncio é necessário, pois não há palavras no silêncio. Há os sentimentos, os pensamentos, mas não as palavras. Por vezes o silêncio é a pura expressão de um sentimento; basta pensarmos nas vezes em que ouvimos alguma coisa e ficamos sem fala, sem conseguir expressar em palavras o que estamos sentindo.

O "mundinho" que é destruído com as palavras que quebram o silêncio é nosso mundo interior, aquele que contém todos os nossos sentimentos, todas as nossas experiências, tudo o que nos forma como pessoas. É o mundo que grita por dentro, mas muitas vezes cala-se por não necessitar de uma expressão para fora. É onde "o prazer permanece/assim como a dor". E por cada mundo ser diferente um do outro, não é possível saber o que vai leva-lo a se despedaçar. Sendo um pouco radical, o entendimento do que se passa dentro deste mundo é tão obscuro que até uma frase bonita como "eu te amo" pode fazer com que alguma coisa seja perfurada, pra usar uma expressão da letra da música. Apenas quem habita esse mundo sabe qual é o limite, e é por isso que as palavras acabam virando uma faca de dois gumes: elas tanto podem fazer bem quanto podem fazer mal.

O fato do Dave parar num campo nevado ao final da música, com a frase "aprecie o silêncio" ecoando, sugere que ali ele está em paz, pois a neve é branca, e o branco é reconhecido como a cor da paz. Em meio a esta paisagem inóspita, porém acolhedora, o eu-lírico sente a paz do silêncio, e está confortável com isso, já que aparenta estar distraído, em meio ao silêncio e à visão da paisagem. Ali não há violência, não há destruição, não há dor, não há promessas. Não há palavras. Há apenas a paz, e o silêncio…

Tempo… ouch.

Fiz uma postagem aqui e acabei deixando de lado, porque o ano foi corrido. A proposta que eu tinha para o blog – a ordem do Desafio Depeche Mode – inicialmente parecia boa, mas eu notei que eu não conseguiria fazer as análises na ordem proposta porque algumas músicas são mais, digamos, fáceis de analisar, enquanto outras requerem um pouco de tempo e paciência para serem "desvendadas".

Tem outra coisa. Algumas músicas tocam lá no fundo, a gente ouve e entende imediatamente o que ela quer dizer. No fim, todas acabam tocando alguma coisa lá no fundo, mas algumas – como é o caso de To have and to hold – são mais intensas.

O que me proponho a fazer é o seguinte: toda vez que eu tiver um insight sobre alguma música do Depeche Mode, eu corro aqui pra escrever. Foi assim que aconteceu com a minianálise de The bottom line que eu fiz no outro blog que eu tenho, e foi assim que aconteceu com To have and to hold, quando comecei com esse blog.

O que acham?

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Desafio Depeche Mode: Dia 1 - Sua música preferida do Depeche Mode de todos os tempos

Esse desafio não podia começar com um item fácil. Escolher uma dentre as mais de 200 músicas gravadas por eles é uma tarefa hercúlea. Mas a gente sempre dá um jeito, né? A música que eu escolhi como a preferida de todos os tempos é To Have And To Hold, do álbum Music For The Masses.

O motivo pelo qual eu a escolhi é que eu tive contato com ela pela primeira vez num momento da minha vida em que a letra fez todo o sentido do mundo. Tempos depois, sendo curiosa, eu comecei a investigar algumas coisas.

No começo da música, ouvimos um vozerio ininteligível, que se estende até o instrumental começar. Procurando bastante, achei numa Wiki dedicada ao DM a seguinte informação:

“At the beginning of "To Have and To Hold" is a Soviet news presenter saying in Russian, "В докладах рассматривается эволюция ядерных арсеналов и социально-психологические проблемы гонки вооружений" (V dokladah rassmatrivayetsya evolyutsiya yadernykh arsenalov i sotsial'no-psikhologicheskiye problemy gonki vooruzheniy) which means, "The reports consider the evolution of nuclear arsenals and the socio-psychological problems of the arms race". Alan Wilder was not aware of this when he added it to the song.”

No começo de To Have and To Hold há um apresentador de telejornal soviético dizendo em Russo: “Os relatórios consideram a evolução de arsenais nucleares e os problemas sócio-psicológicos da corrida bélica”. Alan Wilder não sabia disso quando adicionou-o [o trecho] à música.

Prestando um pouco mais de atenção a esse trecho na música, eu notei que ele não começa exatamente em V dokladah…, mas sim em sotsial'no-psikhologicheskiye, sendo repetido em loop até a entrada da bateria, quando o sampler é sobreposto por ela. Logo depois entra a voz do Dave praticamente recitando a letra composta pelo Martin:

I need to be cleansed
It's time to make amends
For all of the fun
The damage is done
And I feel diseased
I'm down on my knees
And I need forgiveness
Someone to bear witness
To the goodness within
Beneath the sin
Although I may flirt
With all kinds of dirt
To the point of disease
Now I want release
From all this decay
Take it away
And somewhere
There's someone who cares
With a heart of gold
To have and to hold

(Retirado do site depeche mode dot com)

Preciso ser purificado
É hora de compensar
Toda a diversão
O dano está feito
E eu me sinto adoecido
Estou de joelhos
E eu preciso de perdão
Alguém que seja testemunha
Da bondade intrínseca
Por baixo do pecado
Apesar de eu talvez flertar
Com todos os tipos de sujeira
Até o ponto da doença
Agora eu quero me livrar
De toda esta decadência
Jogar isto fora
E em algum lugar
Há alguém que se importa
Com um coração de ouro
Pra ter e manter

A letra é assim mesmo, uma estrofe só, marcada pela bateria cadenciada, quase em ritmo marcial. O personagem parece ter ultrapassado todos os limites possíveis, fez o que podia e o que não podia (Preciso ser purificado/É hora de compensar/Toda a diversão/O dano está feito/E eu me sinto adoecido). E agora precisa de ajuda, está pedindo por ela. A impressão que eu tenho é que esse pedido de ajuda, de socorro e perdão, vem num desespero marcado, como se a pessoa estivesse recorrendo ao seu último recurso para tentar ser alguém melhor (Estou de joelhos/E eu preciso de perdão/Alguém que seja testemunha/Da bondade intrínseca/Por baixo do pecado). E a coisa é tão séria que há a ressalva sobre si mesmo, sobre o que ainda poderá acontecer (Apesar de eu talvez flertar/Com todos os tipos de sujeira/Até o ponto da doença), porém há também a consciência de que está tudo muito errado (Agora eu quero me livrar/De toda esta decadência/Jogar isto fora). Mas este pedido de socorro não está direcionado a alguém em específico: todas as esperanças parecem perdidas, e agora só resta o apelo ao destino, ao desconhecido (E em algum lugar/Há alguém que se importa/Com um coração de ouro/Pra ter e manter).

Aliás, estes últimos versos são ambíguos: ou este alguém tem um coração de ouro e se importa com ter e manter esta pessoa desesperada, ou este alguém se importa com o coração de ouro que a outra pessoa pode vir a possuir “por baixo do pecado”, e se importará o suficiente para tomá-lo pra si e mantê-lo.

Outra coisa interessante acerca desta música é a posição em que ela se encontra no álbum: exatamente antes dela vem I want you now, que é um apelo de um homem para uma mulher para que esta se entregue a ele. Como nem tudo o que é relacionado a sexo é considerado “bonitinho” ou “politicamente correto”, To have and to hold pode até ser uma continuação daquela, mas tempos depois, quando brota um arrependimento ou remorso frente a algum ato cometido. Mas isso é mais viagem da minha cabeça do que qualquer outra coisa. Eu tenho a tendência a ver o álbum Music for the Masses como uma peça única, como se contasse uma história com começo, meio e fim. E a julgar por outras músicas, como Never let me down, eu não consigo deixar de pensar que To have and to hold é uma espécie de catarse intrínseca ao álbum.

Bem, eu acho que é isso. Digam aí nos comentários o que vocês acharam, todos os comentários serão benvindos! =)

Let’s have a black celebration… black celebration… :D

Este blog nasceu de uma ideia entre amigas no Facebook. Eu tentei avisar pra elas que eu sou louca o suficiente pra me enterrar em um projeto assim que elas aparecem com uma ideia, mas não deu certo. O resultado é este blog, que “pretende” brincar um pouco com as ideias contidas nas músicas do grupo Depeche Mode, que existe desde 1981 e conta com 12 álbuns de estúdio e um ao vivo. Dois dos integrantes, Dave Gahan e Martin Lee Gore, possuem trabalhos solo, então é bem provável que entre as resenhas do Depeche Mode apareça alguma coisa relacionada a um dos dois.

Pra começar, eu separei um desafio que anda circulando, ainda que timidamente, pela internet. É uma lista de 40 itens relacionados com a discografia do Depeche Mode. Como meus dias são imprevisíveis, não sei se vai ser possível postar a lista diariamente, mas seguirei a cronologia e escreverei uma pequena [ou não tão pequena assim] resenha de cada música escolhida.

Depois disso… só esta devotee sabe o que vai circular por aqui! =P